O REGRESSO ÀS AULAS VISTO PELOS PROFESSORES

Colocamos quatro questões a dois professores para conhecer a sua perspectiva sobre a prática de ensino nos dias de hoje. Albertina Carreira, professora de Religião e Moral (EMRC), e Acácio Domingues, professor de Educação Física, deram a conhecer a sua opinião.
1- Nos dias que correm fala-se em muitas alterações no ensino. Considera que, nos dias que correm, há facilitismo para com os alunos?
2- O que a marcou mais enquanto aluno (a)?
3- E enquanto professor (a)?
4- Se fosse ministro (a) da Educação, o que mudava no nosso sistema de ensino?

Albertina Carreira
1- O próprio sistema de ensino favorece esse facilitismo! Na sua grande maioria, os alunos hoje em dia são super-protegidos pelos pais! Crescem a obterem quase tudo, sem grande esforço! Os meninos pedem e os pais dão! Basta ver, os telemóveis topo de gama, a roupa de marca, os portáteis, etc. ...Depois na escola, pensam que também não precisam de se esforçar! Graças a Deus que há excepções!
2- Quando um professor mandava algum recado para os meus pais (o que era raro!) e eu tentava de alguma forma explicar o que tinha acontecido, era uma batalha perdida, porque os meus pais achavam que o professor tinha sempre razão! Hoje em dia os alunos questionam a autoridade dos professores porque os seus pais também a questionam!
3- Acho alguma piada, encontrar hoje em dia pessoas que vêm ter comigo e me dizem que já foram meus alunos. Às vezes consigo fazer boa figura porque ainda me lembro de alguns nomes!
4- Começava por reformular o próprio sistema de ensino! Quando ouço os nossos políticos a fazerem comparações a nível do ensino com outros países, a dizerem que num determinado país a taxa do sucesso escolar é excelente, os alunos tem notas brilhantes às disciplinas de Língua Materna e Matemática, apetece-me perguntar-lhes pelos incentivos que são dados às famílias nesses países! Só a título de exemplo: na Finlândia, quando um aluno vai pela primeira vez para a escola (1.º ano de escolaridade), a mãe tem direito a ficar seis meses em casa para poder acompanhar e apoiar o seu filho! E continua a receber mensalmente o seu ordenado! Não é preciso dizer que no nosso país, os pais muitas vezes não vão à escola falar com o Director de Turma, porque o patrão não o permite!

Acácio Domingues
1-Actualmente, atravessamos um período de alterações, em termos de políticas educativas, que condicionam toda a estrutura escolar. Na educação só o tempo dirá se estas medidas terão um impacto positivo, ou não, na vida dos alunos e das escolas. Relativamente ao facilitismo, diria que é mais fácil aos alunos concluírem os seus ciclos de ensino, uma vez que existem mais alternativas na escolha dos percursos escolares. Isto é, existem cursos com graus de dificuldade distintos. Por outro lado, relativamente à escolaridade obrigatória, estão criados mecanismos burocráticos que favorecem e promovem o sucesso dos alunos.
2 e 3- Não houve nenhum acontecimento concreto que me tivesse marcado especialmente, quer como aluno, quer como professor. No fundo, aquilo que conseguimos obter como alunos, e oferecer como professores, são conhecimentos e experiências que apenas diferem na forma como cada um os consegue interpretar.
Na realidade, o que me marca todos os dias é poder interagir com um mundo de crianças e jovens, e poder contribuir para a sua formação íntegra e positiva.
4- Infelizmente, vivemos num país com escassos recursos económicos, e esse facto condiciona todas as ideias, por muito boas que sejam. No entanto, há coisas que o dinheiro não compra, e essas podem ser postas em prática.
Da escola fazem parte os alunos, os professores, os funcionários, os pais e as entidades responsáveis. Ao existir desagrado claro de algum destes agentes, a máquina não funciona, e os riscos de insucesso ficam mais evidentes. Daí que a promoção do diálogo aberto e sincero seja fundamental, por parte de quem tutela a educação, no sentido de encontrar estratégias para obter o equilíbrio e a colaboração entre todas as partes envolvidas.

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