ENTRE O MUITO E O POUCO

É adágio popular essa expressão que diz que “O medo é que guarda a vinha”. Em recente viagem por terras de Israel e Jordânia, pude observar muitas coisas novas e diferentes daquilo com que nos confrontamos no nosso dia-a-dia. Umas ficam na memória porque fazem pensar, outras porque são espécie de aventura ou beleza que se retém com facilidade.
Foi dito que Israel, pequeno país de que dois terços de território são deserto, exporta 60% da sua agricultura que, ao que se diz, é a melhor do mundo. Neste contexto comentou-se que essa é a percentagem que Portugal importa no que diz respeito a produtos agrícolas (confesso ignorância, porque não sei se realmente assim é, mas bem acredito que seja). Alimentação? Bastante boa, pese embora o tipo de temperos utilizados, que não se compadecem muito com alguns dos gostos da nossa gente. Tudo aceitável, no meu ponto de vista. Um dos produtos que me chamou a atenção foi a maçã que como sobremesa nos era facultada, mesmo em hotéis de 5 estrelas. Deliciosas ao paladar, mas sem a beleza do brilho encerado das que se encontram nos nossos mercados e com um tamanho que na nossa próspera União Europeia não seria aceite, em caso algum, dadas as suas dimensões reduzidas. É evidente que sobremesas e doces não faltavam, mas aquelas maçãs pequeninas fizeram-me pensar que aquele país tem o progresso que tem também porque sabe vender o que é mais apetecível aos olhos e consumir o que pode ter um pouco menos de aparência, mas que nem por isso deixa de ser saboroso. Quem, dos mais velhos de nós, não recorda as maçãs que ficavam esquecidas ou como “rabisco” nas macieiras e que por mais pequeninas que se apresentassem tinham um sabor doce e a saber a pouco?
Habituámos a viver no muito sem termos, em muitos casos, passado pelo pouco, sem termos aprendido a dar valor à ausência daquilo que nos não faz falta. A situação económico-social em que estamos a ser forçados a viver faz-nos voltar a um passado indesejável e alerta-nos para um aspecto fundamental da vida humana: a partilha, que muitas vezes não sabemos fazer por generosidade mas que em momentos da história aprendemos a fazer por obrigação e pela impossibilidade de ficarmos insensíveis à situação de ausência de condições que estão na base da dignidade da vida humana e por que irmãos nossos, gente a nosso lado passa.

Pe. José Baptista

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