UMA VIDA ATRÁS DO BALCÃO

Na freguesia do Souto devem ser poucos os que não conhecem o Café Pinhal, junto à EN109, no lugar de Várzeas. Café e mini-mercado no mesmo local, muitos são os anos passados ao balcão, muitos são os que por ali passam, muitas são as histórias que se ali vivem. Os mais novos não se lembram das antigas tascas e tabernas, já não são desse tempo. Mas, ali, temos um estabelecimento que já foi uma taberna, em tempos, mas que o decorrer dos anos obrigou a mudar as suas características tão típicas.
Nesta edição, o NOTÍCIAS DA FREGUESIA foi falar com Eduardo Pinhal, proprietário do estabelecimento. Natural da Ortigosa, há 57 anos que veio parar às Várzeas e, antes de ir ter às suas mãos, já existia este espaço comercial. “Isto era uma taberna e uma mercearia do meu tio”, relembrou Eduardo. “O meu tio foi para o Brasil e, aquele que viria a ser um dia meu sogro, comprou isto”, conta. Mais tarde, em 1964, quando regressou da guerra do Ultramar, Eduardo casou com a “filha do patrão”. Cerca de quatro anos mais tarde, Eduardo adquiriu todo o estabelecimento – taberna e mercearia. Esta é, sem margem para dúvidas, um dos estabelecimentos mais antigos do género – senão o mais antigo – na freguesia.
Relativamente ao surgir das grandes superfícies comerciais, Eduardo afirma que os hipermercados vieram retirar muita da sua clientela. Mas, refere, “lá tem de se pagar na hora e aqui, há muitos que ainda podem ficar a dever”. Contudo, existe sempre o cliente fiel, “há os mais antigos que toda a vida vieram cá”, conta.
Desde que tem o estabelecimento em suas mãos, já fez algumas obras, nomeadamente a construção casa onde habita, junto ao estabelecimento, e amplificação do café. Mas, já lá vão alguns anos. Agora gostaria de fazer novas obras de ampliação e renovação. Contudo “temos todas as aprovações, luz verde em tudo para avançar, à excepção da Estradas de Portugal”, lamenta.
Estar ao balcão foi sempre a sua profissão. “Fiz isto quase 60 anos e nunca tive um dia de férias!”. A palavra “férias” só começou a fazer parte da sua vida quando, há três anos, apanhou um susto com um AVC. “Fui sempre eu e a minha mulher e não estou arrependido!”, afirma, orgulhoso do seu percurso de vida.
Agora, Eduardo Pinhal aos 68 anos e a sua esposa, Maria da Luz Santos, com 66, contam com a ajuda dos filhos, Samuel e Cristina e da nora, Anabela, no atendimento no café e no mini-mercado.
Mas, apesar de tantos anos de porta aberta, não significa que a crise não os afecte. O filho, Samuel, disse ao NOTÍCIAS DA FREGUESIA que a crise “também nos está a chegar”.
Neste tipo de estabelecimentos, mais familiar, encontramos um atendimento que não é comum nas grandes superfícies. “Às vezes, já estamos de porta fechada, tocam à campainha e nós ainda desenrascamos a pessoa”, conta Eduardo.
Durante esta conversa, Eduardo contou também alguns episódios caricatos que viveu ali no seu estabelecimento. “Uma vez, chegou aqui um tipo de mota e pede-me uma imperial e um maço de tabaco, e eu servi-o. Depois perguntou-me se eu lhe fazia uma sandes de chouriço e eu disse que sim. Fui fazê-la. Quando voltei, com a sandes na mão… bem, fiquei com ela na mão… porque já não estava ninguém no café!”, conta Eduardo, rindo-se, agora, do episódio.
Diariamente, são ainda muitos os que por ali passam e muitos outros os que já passaram pelo café e mini-mercado. O “Pinhal” é um verdadeiro exemplo de que a união familiar pode ser a chave para este estabelecimento perdurar.


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