MORREU A LAURINDA!

O telefone tocou bem cedo, eram cerca de oito horas da manhã. Do outro lado uma voz amiga dava uma notícia terrível. O Rogério, com a voz emocionada, comunicava-me que tinha morrido a Laurinda.
Embora desde há muito a doença fizesse adivinhar que um dia teríamos este desfecho, havia sempre a esperança de que a força daquela mulher excepcional conseguiria vencer as adversidades e traições que a vida e a saúde lhe pregaram. Mas um dia o corpo não resistiu mais e a morte veio.
Conheci a Laurinda ainda criança, era ela amiga e companheira de brincadeiras e de escola da minha irmã. Já revelava, por esses dias, alguns dos traços que marcaram, para sempre, o seu carácter: a alegria de viver, a perseverança e, acima de tudo, a solidariedade com que tratava os outros.
As andanças das nossas vidas não permitiram que tivéssemos uma convivência tão próxima como gostaríamos. Mas isso não enfraqueceu, de modo nenhum, a amizade que nos ligou e às nossas famílias desde sempre.
Por tudo isso doeu e dói a morte da Laurinda, agora que já passou mais de mês desde o fatídico telefonema do Rogério, seu marido e bom amigo também. Por tudo isto, esta é uma crónica para o nosso jornal que eu gostaria de nunca ter escrito e em que cada palavra dói como uma farpa.
Foi uma mulher de causas a que se entregava de coração e de alma. A sua força vinha-lhe da convicção com que acreditava no que era, ou não era, justo. Estava sempre disponível para o apoio aos outros, principalmente os mais frágeis, os idosos. Era uma pessoa controversa, naturalmente, como o são as pessoas participativas e interventivas na vida cívica. Essa era das maiores qualidades que tinha e nela apreciava. Personagem vertical, assim se manteve até ao fim.
A Laurinda morreu e a Igreja do Souto foi pequena para aqueles que dela se quiseram despedir. Ao Rogério e aos dois filhos que deixou, nada mais posso enviar-lhes além do meu abraço.

Orlando Cardoso
(
orlandocardososter@gmail.com)

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