POBRES E RICOS

Recordo, com bastante clareza, a imagem do “Tisquim de Caxarias”, um pobre velho, supostamente chamado Joaquim, com um velho saco aos ombros e que semanalmente passava pela minha terra pedindo esmola. Uma ou outra vez, consoante a hora, pernoitava num palheiro ou barracão em que lhe era permitido fazê-lo. Éramos crianças mas não me recordo de alguma vez dele termos tido medo, era pessoa que já fazia parte do quotidiano da terra, não havendo qualquer pejo em o chamar para casa para lhe dar um prato de sopa ao jantar (que agora é chamado de almoço). O “Tisquim” deixou de aparecer e os pobres batedores de estrada em busca de um prato de sopa nunca mais se viram por lá.
Hoje a pobreza continua a ser uma realidade, com cariz diferente e muitas vezes disfarçada: pobres ostentando sinais de poder e riqueza, e ricos apresentando todos os sinais de nada terem. Uns vivem mal, não podendo ser ajudados por não se conhecerem, os outros vivem mal por não terem a capacidade interior de descobri que se pode viver melhor. Tenho manifestado algumas vezes um discordar das campanhas que apenas se fazem no Natal, não me consta que agora nos preocupemos muito com os outros e ainda não passou um mês, mas sinto uma certa tristeza também quando se faz uma campanha para angariar bens de primeira necessidade para os mais necessitados e depois não é com facilidade que sabemos onde os entregar, porque “uns recusam” outros “não precisam”… A pobreza em si é uma indignidade, mas os mais pobres não deixam de ser dignos e ter muita dignidade. O pior está em não conseguirmos reconhecer as nossas reais necessidades e posses, para pedirmos com dignidade ou vivermos com, usufruindo dos bens que temos.
Fiquei de olhos arregalados quando, há dias, numa ida à Câmara Municipal, estacionei o carro, sem ser preciso que me fosse indicado o lugar pelos arrumadores, o que significa que havia lugares, e na saída vi que um dos que lá estavam a dar aos automobilistas o sinal da presença de lugares livres se dirigiu a um carro estacionado, o abriu retirou papéis do tablier deixando-os no chão, pôs um “ticket” de estacionamento no lugar devido, fechou o carro e se dirigiu para o centro da cidade. Terá ido almoçar… já tinha ganho o suficiente? Óptimo! Terá ido comprar tabaco ou beber um café? Tem todo o direito a isso! Terá ido comprar uma dose de droga? Oxalá que não. Mas a minha questão não passa por nada disso. O meu espanto deve-se ao facto de o carro, que tudo leva a crer era dele, além de pagar o estacionamento apenas a partir do momento em que deixou de “trabalhar” e se ausentou, não ser um carro qualquer, mas um bom BMW com matrícula do ano 2000. Afinal aquele homem é rico ou pobre? Fico com a sensação de mais que um homem pobre é um pobre homem que deve ter (ou ter tido) dinheiro mas o não o sabe (ou não soube) administrar. Quem dera que a nossa pobreza fosse apenas material! Mas o maior drama passa a ser quando ela é mais interior que exterior.

Pe. José Baptista

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