DO VELHO SE FAZ NOVO

O tempo não deixa de correr apressadamente. Indiferente a crises e a tudo o mais, seja bom ou mau, lá nos está a fazer chegar a mais um Natal, e isso faz-nos sentir que estamos no final de mais um ano. A história fica feita no passado e o futuro apresenta-se diante de nós para ser construído. A história fixou-se agarrada à nossa vida por isso não nos dá espaço de mudança, mas o dia de amanhã está em branco, pronto a ser preenchido e colorido por cada um.
O Natal é, talvez em todo o ano, a época que nos faz mudar mais, nos faz sentir diferentes ainda que por um curto espaço de tempo. Reina ainda a dimensão do encontro familiar e de partilha entre todos. Este é, sem dúvida, o Espírito de Natal: sentirmo-nos “pequeninos”, o que nos torna semelhantes a todos os outros e nos faz sentir membros de uma mesma comunidade. A aproximação a que isso nos leva, traz-nos o encanto e a magia próprios da vida humana, que tem sentido quando vivida em comunhão e dentro de relações positivas que atiram para longe a sensação de que se está só seja em que momento for. O ser humano é verdadeiramente especial: tem, mais que confirmada pela vida, a experiência de tudo o que o faz sorri, e sentir aquilo por que visceralmente anseia, mas no momento seguinte a experiência desvanecem-se e atiram-se todas as forças na busca do que é mais fácil e momentâneo, mas também mais passageiro e enganador.
A sociedade consumista em que nascemos e vivemos produz diariamente milhões de toneladas de lixo. Muitos recursos então a ser desperdiçados e a natureza vai-se deteriorando, acabando por chegar ao esgotamento total se a exploração de que é vítima não mudar de rumo. Por outro lado, há o problema do espaço para depositar todo o lixo produzido diariamente. Foi uma certa tomada de consciência dessas realidades que nos fez pensar em reciclagem: muitos dos recursos naturais são reutilizados de modo a permitir que os exageros consumistas não destruam tão rapidamente a natureza. A palavra reciclar significa repetir o ciclo, isto é: “dar vida a um objecto mais que uma vez”.
Até há bem pouco tempo era comum ouvir falar de reciclagem em relação às pessoas. Hoje usa-se a expressão “formação permanente”, que não é mais que uma actualização, um “upgrade” dos nossos conhecimentos, das nossas ideias. Creio não ser descabido dizer que o tempo de Natal é momento oportuno para a reciclagem dos objectos que já fazem parte do passado para os reutilizar no futuro, mas é tempo também de pensar na redução dos consumos de papéis, e sacos e outros materiais plásticos… Aqui, mais que reciclar importa evitar o uso até na primeira vez. Quanto a nós e ao nosso modo de viver, talvez importe bem mais recuperação e reutilização de muitos dos valores do passado, não para a ele voltarmos mas para com eles darmos conteúdo a muitas ideias balofas que nos nascem na mente e, como o vento ou balões cheio de nada, se propagam e difundem velozmente esvaziando também a vida daqueles que sofregamente e sem critério as absorvem e delas fazem os alicerces da construção da sua história.
Para melhor e mais reciclarmos é preciso que nos reciclemos.

Pe. José Baptista

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