FORMAÇÃO É APOSTA GANHA

Formação. Nos dias que correm todos procuram obter um pouco mais de formação, ou o reconhecimento das competências adquiridas ao longo de uma vida. O mercado de trabalho torna-se mais exigente, e até mesmo a valorização pessoal de cada um, também.
O NOTÍCIAS DA FREGUESIA foi conhecer o processo de reconhecimento de competências que tem decorrido no Souto da Carpalhosa que, tem sido um sucesso. Fomos falar com técnicos, para nos explicarem como se processa tudo isto, e com formandos de RVCC para sabermos quais as suas motivações.
Na nossa freguesia, as pessoas juntaram-se e junta cedeu as instalações. Por fim, foi só pôr mãos à obra.
Foi no Centro Novas Oportunidades, do Centro de Formação Profissional de Leiria, que fomos encontrar Hélio Sousa e Cristina Ramalhal, dois dos responsáveis pela formação profissional em Leiria. Hélio Sousa, técnico de RVCC de um dos dois grupos no Souto da Carpalhosa, começou por referir que após uma primeira sessão de esclarecimento sobre o que é o RVCC, a afluência foi tal que houve necessidade de constituir um segundo grupo de trabalho. “No caso do Souto, o processo está a decorrer com bastante entusiasmo”, afirmou Hélio.
Mas, afinal, o que é o RVCC? O RVCC – Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências – é um processo que permite valorizar as aprendizagens adquiridas ao longo da vida, nos diferentes contextos em que esta se desenrola, seja em casa, no trabalho, no seio dos amigos, família…, atribuindo equivalência aos níveis de escolaridade do 4.º, 6.º e 9.º ano.
O processo de RVCC não se deve confundir com o processo de ensino normal. Tal como explica Hélio Sousa, “no ensino dito normal aprende-se competências novas, no processo de RVCC existe o reconhecimento de competências já adquiridas”. No caso particular do Souto, Hélio referiu ainda que a média da faixa etária dos formandos é entre os 35 e os 45 anos e, na maioria, trata-se de pessoas empregadas. No que respeita ao empenho, “no Souto existe muito à vontade, muita motivação e muita empatia”, declarou.
Cristina Ramalhal refere que a ideia a reter é que o processo de RVCC é o oposto da vida escolar: na escola aprende-se, no processo de RVCC demonstra-se o que a vida ensinou. “É um processo que procura fazer justiça aos conhecimentos aprendidos ao longo da vida”, disse.
Ao longo de 12 sessões semanais, com a duração de 2,5 horas cada, com uma equipa constituída pela técnica de RVCC e formadores das diferentes áreas de competência-chave, os formandos são apoiados na construção de um dossier pessoal de competências que deverá reflectir o conjunto de aprendizagens que a experiência de vida lhe proporcionou.
Este processo de validação de competências destina-se a todos os maiores de 18 anos, activos ou desempregados, que não tenham a escolaridade obrigatória. Como o conhecimento e a experiência de vida de cada um é diferente, foram criadas áreas de competência-chave sobre as quais se organiza todo o processo: Linguagem e Comunicação, Cidadania e Empregabilidade, Matemática para a Vida e Tecnologias de Informação e Comunicação. É com base nestas competências-chave que os formandos vão elaborando o seu dossiês de trabalho que será apresentado no final e que lhes dará direito à validação final que legitima, ou não, a demonstração de competências.
O processo de RVCC é preciso ter em conta que não se trata de uma escola. Não há professores, mas sim formadores. Não há aulas, mas sim sessões.
Tal como foi referido, uma das competências é a informática, mais concretamente as Tecnologias de Informação e Comunicação, e tal como os alunos do ensino normal têm direito ao acesso a computadores portáteis a baixo custo, também os formandos de RVCC têm a mesma oportunidade o que, para quem começa a aprender a trabalhar com a informática e lhe ganha gosto, é bastante vantajoso.
Para já, estão previstas novos processos de RVCC, para novos formandos, que irão decorrer já no início do ano, entre Janeiro e Fevereiro.

O NOTÍCIAS DA FREGUESIA falou também com dois formandos do RVCC no Souto da Carpalhosa, Margarida Jordão e Ricardo Bicho.
Margarida Jordão, da Moita da Roda, tem 43 anos e trabalha na área de seguros. Com o 6.º ano de escolaridade, Margarida sempre quis ir mais além na aprendizagem. “Apesar de estar empregada, achei sempre muito importante a formação”, disse. Ouviu falar no programa “Novas Oportunidades” e foi aí, depois de procurar a devida informação, que começou o passa-a-palavra para que fossem reunidas as condições necessárias – número de formandos considerável – para que a formação se realizasse perto de casa, neste caso, no Souto da Carpalhosa. Assim foi. Para a formação de uma turma eram necessárias cerca de 15 pessoas, número limite de cada grupo para reunir as condições ideais. Contudo, a aceitação na freguesia foi tal que foi necessária a criação de duas turmas. Margarida contou-nos como se processa a primeira entrevista, individual, e todo o processo de RVCC, até à validação final dos trabalhos. Esta formanda frisou que, acima de tudo, o que a motivou, foi o desejo de ver reconhecida a aprendizagem que se vai adquirindo e, claro está, obter o 9.º ano. “Estou a gostar bastante e recomendo a todos os que queiram obter mais qualificação”, afirmou, declarando ainda que “o dinheiro não é justificação para não ir porque, afinal, só se pagam 5 euros para contrato e imposto”.
À semelhança de Margarida Jordão, também Ricardo Bicho está empregado, no sector da mecânica de automóveis, mas, mesmo assim, também procurou obter mais qualificação. “Só fiz o 5.º ano e sempre achei importante obter mais”, disse. Este jovem do Picoto, de 34 anos, lembra que o importante nas sessões de RVCC é “mostrar o que aprendemos ao longo da vida”. Ricardo tem vários amigos e vizinhos a fazerem o mesmo reconhecimento, e uma coisa garante: “ninguém diz que não está a aproveitar”. “O que muitas vezes custa mais é a falta de tempo. Sou marido, pai, tenho emprego… mas mesmo assim, arranja-se sempre tempo. Com um bocadinho de esforço, tudo se arranja”, disse, sublinhando que o “tempo” não é, propriamente, uma justificação para não entrar no RVCC. Da sua experiência no RVCC, Ricardo sublinha a aprendizagem na área de informática. “Agora, já sei fazer um documento no computador, uma carta, contas, ir à Internet… Hoje em dia para tudo é preciso informática. E eu dei-me muito bem!”, confessou, mostrando ainda alguns trabalhos desenvolvidos para o processo de RVCC. “Hoje estou empregado, amanhã posso não estar. Agora, com a aprendizagem de informática e com o reconhecimento do 9.º ano, acho que tudo se torna uma pouco mais fácil”, disse. A duração do RVCC é de cerca de três meses o que, para Ricardo, “é muito pouco tempo”. Contudo, lembra que “é fantástico ver o que o pessoal evoluiu em apenas três meses”. Tal como Margarida, também Ricardo recomenda o RVCC para todos os que não têm a escolaridade mínima e diz ainda que “devia ser mesmo obrigatório para quem não tem a escolaridade obrigatória ou está desempregado, independentemente da idade!”.

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