A MEU PAI!

Que me ensinou a cantar
versos, da vida do povo, de expressão popular!
… Se voltasse, com certeza gostaria
de ler o que escrevo, em poesia!
- Ele foi quem me fez poeta
tanta vez me repreendeu, que não saísse pateta,
que não tivesse vergonha de trovar os sentimentos,
bastava cedo acordar, e arranjaria argumentos!

“De manhã, começa do dia,
depois das onze, vem o meio-dia!”.

Descalço, pobre, mas honrado
enxada nos ombros, terras fora
cavando…
- quantas vezes afaimado
por mais que fizesse, não chegava,
mas pelas barbas de seu rosto
essas, ele mesmo as respeitava
sempre pronto, à hora devida lá estava
com chuva, com frio, cavava!

À noite, junto à lareira
adormecia no banco, cansado,
era assim que se repousava!

Gostaria que voltasse, para que meus poemas lesse
dedicados a pessoas
às plantas e aos penedos
às velhas pedras da rua, quão movidas delatam segredos,
a Doutores!
Aos burros, presos às oliveiras
aos senhores de fato escuro, que agora só fazem asneiras
escrevo a toda a gente, até aos miúdos das escolas
aos pançudos avarentos e aos pobres que pedem esmolas,
aos pintores, aos pinheiros e às flores
às ruas e vielas e a quem transita por elas
às senhoras, viúvas, casadas, solteiras
aos relógios, ao vinho e às bebedeiras
poemas alegres e risonhos que rabisco nos meus sonhos!

Alguns suscitam mau estar
a quem os não sabe ler;
Paciência!
Escrevi aos surdos, às bruxas e aos ladrões
que vestem fatos, sem botões
aos ciganos, aos trafulhas
aos chimpanzés e macacos que na jaula joguem bulhas
ao circo… (agora é de graça)
os palhaços, já não fazem rir,
quando a caravana passa!

Pai,
eu continuo a trovar,
e quero, que saibas, lá onde estejas
que te continuo a amar!

Lino

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